segunda-feira, 28 de junho de 2010

O pós-eu-mundo (12° Encontro - Trajetórias do Ser)

Neste encontro eu tive função específica, fui o comentador. A apresentação foi do Leandro Haik. Então, como preferi fazer uma apresentação das conexões que estabeleci no contato com a fala da Maria Lúcia Pupo, O Pós-Dramático e a Pedagogia Teatral, coloco aqui o que apresentei lá:

 
COMENTÁRIOS

Antes de entrar no tema é preciso conectar um pouco com o conceito de teatro pós-dramático.
Pincei alguns trechos do Benedito Nunes ao tratar do tempo na narrativa, porque acredito que o Lehmann, conceituador do teatro pós-dramático, vai num raciocínio semelhante quando desconsidera o teatro épico como ruptura. E porque entendo que o tempo é uma particula pouco necessária no pós-dramático.
 
"O épico e o dramático se aproximam do ponto de vista do tempo, por que ambos, dentro da diferença modal que os distingue, nos colocam sempre diante de eventos, relativamente aos quais, como agentes ou pacientes, os personagens da obra se situam. Esse teor objetivo, que lhes é comum, separa-os da lírica, inconcebível sem a tonalidade afetiva, que incorpora as vivências de um Eu ; e sem o ritmo, que incorpora as vivências ao livre jogo das significações, graças ao qual se opera o retorno reflexivo da linguagem sobre si mesma."
(Benedito Nunes, O Tempo na Narrativa)
 
"No dramático e no épico, o tempo vem normalmente associado à “fluidez da corrente da ação” , sendo portanto, inseparável dos acontecimentos que o preenchem."
(Idem)
 

O Teatro pós-dramático
"Dramático, para Lehmann, é todo teatro baseado num texto com fábula, em que a cena teatral serve de suporte a um mundo ficcional.... Com esse conceito de drama que reúne Eurípedes, Molière, Ibsen e Brecht, o teatro épico não poderia ser considerado um salto, porque nele os deslocamentos da dinâmica interpessoal – por meio de coros, apartes, narrativas, etc. – não chegariam a subverter a vivência ficcional."
(Sérgio de Carvalho, Apresentação do livro “Teatro pós-dramático” de Hans-Thies Lehmann)
  
"O teatro pós- dramático é essencialmente (mas não exclussivamente) ligado ao campo teatral experimental e disposto a correr riscos artísticos. (...) Na ênfase em formas teatrais experimentais não está implicando um juízo de qualidade: trata-se da análise de uma idéia de teatro diferenciado, não da apreciação de empreendimentos artísticos individuais. (...)Trata-se aqui de um teatro especialmente arriscado, porque rompe as com muitas convenções. Os textos não correspondem as espectativas com quais as pessoas costumam encarar textos dramáticos. Muitas vezes é difícil até mesmo descobrir um sentido, um significado coerente da representação. As imagens não são ilustrações de uma fábula. Esse trabalho teatral é essencialmente experimental, persistindo na busca de novas combinações ou junções de modos de trabalho, instituições, lugares, estruturas e pessoas."
(Teatro Pós-Dramático, Hans-Thies Lehmann)
 
 
Aí eu ousadamente faço uma tentativa de tornar didática a apresentação de algumas características do teatro pós-dramático, sem no entanto acreditar que elas caracterizem uma obra como tal, mas dão pistas de um possível enquadramento.
Divido assim: 

A narrativa 
  • O Pós-dramático transgride os gêneros.
  • Perspectivas para além do drama.
  • A medição do sentido não é prioritária.
  • Não há fábula ou é relegada a um 2º plano.
  • Nega-se a mimese.
 
A encenação
 
  • O acontecimento cênico é pura presentificação do teatro
  • A recusa da síntese
  • Abundância simultânea de signos (espelho da confusão da experiência real cotidiana), cuja fratura pode se alargar até a ausência total de relação entre eles. 
  • Evidencia o não acabamento da percepção 
  • Teatro afirmado mais enquanto processo do que como resultado acabado. 
  • O caráter fragmentado é tornado consciente
 
O ator
 
  • Recusa a personificação. 
  • Não conta através de gestos tal ou tal emoção, mas se manifesta por sua presença, que se inscreve na história coletiva. 
  • Como um performer, se manifesta em seu próprio nome, encena seu próprio eu.
 
A platéia
 
  • Uma transformação da percepção da platéia é convocada. O desconforto da cena pós-dramática, muitas vezes aparente no espectador, acarreta potencial para emergir interrogações. 
  • O espectador vê a irrupção do real no jogo e seu estado estável de espectador questionado “enquanto comportamento social inocente e não problemático” . Uma mudança de atitude radical é solicitada. Ele tem que tecer relações, criar elos, assim, alargar percepções.
  
Conexão com a cena (da minha função específica de comentador)
 
Talvez o espetáculo (que eu tenha visto) que mais chegue perto a uma estrutura pós-dramática seja o “Sombra a L’ombre”, Nando Lima, 1995. (Houve um espetáculo semelhante em 2002, também do Nando, o “Leve Barato”)
 Gera uma compreensão para além do drama. Não há fábula. Muitos elementos compõem a encenação e não há uma narrativa conjunta – quando narram, o fazem concomitantemente, sem uma conexão lógica e/ou cronológica. Há uma abundância de signos, sem hierarquização de imagens ou de qualquer elemento. Mesmo o ator, muito presente, é apenas sombra.
 
O que ocorre é um compartilhamento da experiência cênica com o expectador, que sai sem respostas ás muitas conexões subjetivas a que é submetido (se estiver disposto), sai com sensações comparativas das suas próprias experiências. O processo do ato, a produção da ação, é o que é visto. A platéia é levada, é solicitada, a uma nova percepção do fazer teatro.
Porém, não tenho certeza da categorização no pós-dramático, talvez boa parte da obra do Nando Lima esteja nesse gênero. Poderia citar algumas obras do grupo Cena Aberta, dirigido por Luiz Otávio Barata, pela ruptura com a fábula, o trabalho com não atores, relação profunda com a platéia, mas que também não teria certeza.
  
Sobre o Texto de Maria Lúcia Pupo
 
Ela levanta alguns questionamentos sobre a maneira como elabora uma pedagogia para o teatro pós-dramático:

  • Haveria procedimentos específicos que chegassem a configurar a pedagogia para uma cena pós-dramática?
  •  Ao professor (educador (?) teatral, pedagogo teatral (?)) é solicitado a capacidade de leitura da cena pós-dramática, para a disponibilidade de uma nova percepção. Condição indispensável, essa de percepção ampliada, ao coordenador de processos de aprendizagem teatral.
 Aí está o primeiro aspecto da confluência Pós-dramático/pedagogia teatral, que é no que o espectador desse teatro precisa ter como ferramenta, a ampliação da percepção. Talvez seja nisso que a pedagogia teatral precise se basear para tratar do pós-dramático
 
  • Caberia, então, recortar, dentro das reflexões sistematizadas sobre a aprendizagem artística, uma pedagogia, ou mesmo uma didática específica que viesse a dar conta do fenômeno pós-dramático?
Não creio. Não há fórmula, há processo.
O processo de construção do Eu-Mundo pode ter sido uma aplicação do Teatro pós-dramático à pedagogia teatral. Ou uma maneira didática de fazer compreender o pós-dramático num processo pedagógico, desde a primeira solicitação da Wlad de nos mantermos atentos, numa escuta de todos os sentidos, sendo ao mesmo tempo aluno-participante, disposto a se fazer presente na aula como no jogo, disposto a lançar-se ao experimento-aula, e, ao mesmo tempo, observador crítico de si, do outro (aluno, jogador, professora, expositor), do todo.
Adiante, de posse de informações aparentemente isoladas, prescritas nos textos apresentados nos seminários, com devida conexão com a produção cênica local e debate aberto para toda e qualquer conexão relacionada, o conteúdo abrange aspectos diversos do conhecimento da abordagem teatral, da leitura às múltiplas concepções artística, da percepção do espectador à criação do personagem. Tudo isso, subjetivamente inserido nos exercícios do eu-mundo. Tudo posto de maneira a cruzarem-se as experiências sensoriais da formação do conhecimento corporal, necessariamente entremeados de elaborações psíquicas, de cada um que atua (nós, alunos) com o desafio proposto de sua transmissão em formato teatral, sem a obrigação da fabulação, resultados ao disparo da encenação no sábado, 19.
 
Então, entendo que o “Eu-Mundo”, a apresentação, está relacionado à estrutura pós-dramática empregada no ato das performances ocorrendo concomitantes. Ainda que eventualmente, um ou outro, tenha colocado uma cronologia, um enredo, uma fábula, na sua encenação, ao passo que se realizam ao mesmo tempo, configuraram uma narrativa sem encadeamento, a não ser o proposto pela subjetividade de quem assistiu. O espectador foi colocado num espaço teatral rompido, cujas linhas fronteiriças estvam estabelecidas em desacordo e cada novo código posto em cena poderia desfazer o anterior. Apenas ele, convocado a dispor das suas próprias experiências, foi senhor de uma lógica - ou foi levado pelos estímulos das encenações (sons, luz, textos, imagens), associando-as a partir deles, ou a construiu aleatoriamente, por qualquer outro critério – cujas correspondências foram atribuídas pela necessidade de uma organização sensorial.
 
 Para acabar, cito a Pupo, que na verdade, pelo que entendi, traduz o que eu disse acima: 
"... aquilo que muitas vezes é vivido como simples exercício ou imprecisa experimentação traz em si o germe de modalidades estéticas, qualificáveis como manifestações de um teatro pós-dramático."
(Maria Lúcia de Souza Barros Pupo; O pós-dramático e a pedagogia teatral. p.227.)
 
ps.: as imagens são dos espetáculos citados. Tem mais no espacelive do Nando. É só linkar (verbo novo)!

Comunicação com o invisível eu-mundo (12° Encontro - Trajetórias do Ser)

Depois de discutirmos tanta tecnologia ligada as novas formas do fazer teatral, ou de como as tecnologias vão se inserido ao teatro e de como o teatro vai se apropriando delas; depois de tratarmos do ator atento à contemporaneidade, aos multiplos estímulos da era mundializada e da virtualidade; depois de vermos quantos o ator pode ser, ou quantas possibilidades de atuação ele pode lançar mão; depois disso e de ver o quanto nós realmente estamos diante de um esmero oculto à compreensão dos nossos sentidos, ficamos diante de tratar da "Canalização". Assunto que nos remete ao espiritualismo, ao movimento da "Nova Era" e também à canalices e charlatanismos. Mas não é disso que trataremos aqui.
Aqui eu falo de conexões e de disponibilidade. Acredito demais nas dimensões que correm paralelas a esta que estamos inseridos. Planos e sobre-planos e sub-planos, órbitas de energias que passam por nós, nos tocam e nos atravessam, por vezes, agem através de nós e nós através delas. Energias, sutilezas, dados, o que for, algo nos conecta, não apenas um com o outro, mas com objetos, outros seres vivos, antepassados. Mas nem sempre estamos atentos, nem sempre estamos disponíveis e a grande maioria das pessoas nem acredita nisso, portanto, nem sempre estamos abertos a isso. Mas somos canal para isso, quer dizer, podemos ser. Podemos ser um meio, um médium, uma mídia, depende de como tratamos o assunto.

Poderia falar disso ocorrendo em momentos cotidianos, em casa, na aula, na rua, mas não é o caso aqui. Aqui tratamos do fazer teatral. Nas salas de ensaio, somos arrebatados por manifestações novas a cada momento de entrega ao processo de criação. Quanto maior a intrega, tanto será o arrebatamento. No Palco não é diferente quando o aquecimento foi eficiente e o jogo está ativado.  Da atenção, que podemos chamar de "escuta do todo", a recepção dessa comunicação invisível é parte, sim, crença, mas talvez funcione apenas como instrumental do ator com presença cênica, disposto ao jogo e com a atenção distribuída. Talvez vire técnica e a comunicação ocorra.
A utuilização consciente é que torna o ator um canal. No dia a dia, talvez a consciencia não seja necessária e talvez nem no ensaio, para o ator. No palco, torna a atuação mais pulsante, puxa a platéia pra dentro, unifica a obra.
Uma amiga, Veronica Gerchman, da Cia Truks, quando é arrebatada por uma ação inesperada do boneco que ela manipula com mais duas pessoas, diz: "Passou um anjo!"
Não descarto, claro, a hipótese de ser maluco, seria ingenuidade se o fizesse, e se não fosse, não brigava diariamente pela sobrevivência fazendo teatro.

Walace apresentou o tema e a Deliane Lima comentou. Pareciam nervosos, mas foram eficientes o suficiente pra instigar o debate que se seguiu.

O dever a seguir foi apresentar o roteiro-objeto para quem não tinha feito ainda e, para quem quisesse, começar a trabalhar a sua encenação do Eu-mundo. Eu não tinha apresentado ainda e o que levei não estava completo. Não tenho imagens do que fiz. Nesse momento o meu roteiro-objeto já está completo, mas está com a Wlad. Porém o roteiro escrito, que baseou o objeto já está postado aqui, na página Eu-mundo.

Ator "reconstituído" (11° Encontro - Trajetórias do Ser)

O ator, não é ele aquele que diz ser outro? que tem máscaras, maquiagens, muitas indumentárias para não ser ele mesmo? Será ele, então, sempre, ainda que pareça outros? Não diz palavras com verdades e nuances, cores e profundidades, que não são suas? Mesmo que seja ele mesmo e vista as suas roupas e diga palavras suas, não será tudo mentira? tudo o que parece sentir ali não é reinvento das minucias do tal sentimento? Então, esse não é ator, o outro é? O que faz, o que finge, o que não faz e nem finge?
Não consigo entender qual deles, atores, está errado. Qual não serve mais a esse tempo, se estamos diante de uma discussão em torno de uma nova dramaturgia, que não foge à certeza da diversidade de falas nessa contemporaneidade? Entendo que sem ele não há teatro. Com ele constrói-se a obra teatral e é ele o responsável pelo levantamento da obra ao vivo. A obra pode determinar que tipo lhe serve, qual maneira será usada naquela elaboração.

Máira Tupinambá mostrou o tema proposto no texto (Da Interpretação, do livro O Teatro, Em Suma, de Fersen) e o Ícaro Gaia comentou colocando momentos da sua própria trajetóri. Já disse antes, gosto disso.
Na sequência, "brincamos" de feira. Todos expuseram seus roteiros-objeto ao mesmo tempo, para que todos vissem ao mesmo tempo, num passeio pela sala, acho que para termos uma noção do movimento que será na apresentação.

Foi muito dificil pensar o roteiro para o eu-mundo em forma de objeto. Parece que tenho uma dificuldade com a plástica, com a transformação de uma idéia em um objeto. Talvez toda a discussão que tiuvemos em torno do que é arte pode ter contribuido. Enfim, não levei o roteiro-objeto. Quase todos levaram. Levei idéias de cenas, do que eu quero destacar dentro dessa trajetória, que virou meu eu-mundo. Sei que quero a fala da Lucia Santaella, "em constante pesquisa de soluções provisárias", quero o copo de café que tomo toda noite em sala de aula e que a Wlad, na primeira aula, me solicitou cuidado, quero o holocausto, pelo viés da anestesia dos sentidos, polêmico na exposição do Laion, quero o meu desequilíbrio no taxi quando criança, quero a fala da Adhara de que "queria ter dito de verdade isso pro meu pai", quero um texto do blog da Deliane que reinventa a percepção de objetos, quero cantar um tema de amor, pode ser "Paradeiro" do Arnaldo ou algo do Tom Jobim ou do Chico Cézar que não lembro o nome.

A exibição da pele do teatro (10º Encontro - Trajetórias do Ser)

O 10º encontro desta trajetória aconteceu. Achei que pularíamos um dos textos propostos ou juntaríamos dois, pois o encontro anterior foi a abertura do Seminário de Dramaturgia, já postado aqui, logo em baixo deste.

Tratemos da pele política que reveste o teatro. Digo pele porque ele nem sempre está nu e sua pele nem sempre é vista, mas sempre está (esteve e estará) lá. Aparente ou descarado, ou não, consciente, ou não, para quem faz e assiste, é isso que o teatro sempre será: um ato político. Mesmo que não seja engajado, panfletário, que o tema não tenha nada de cunho econômico-social, mesmo que não tenha drama.
Político por ser uma convocação pública, um chamado a todos que estejam dispostos a ir, ou que podem ir. Sim, porque ainda assim, a maioria das convocações é para quem pode pagar. Daí, o teatro de rua estar bem mais desnudo, ao menos com essa parte da pele mais exposta, a parte que permite que todos e qualquer, com vontade, parem pra ver.


Mas há sempre a necessidade da troca, da participação de quem lá estiver presente. Nesse sentido, se todos participam, mesmo que uns falem mais que outros, apareçam mais que outros, o que ocorre é uma reunião, uma assembléia pública, disponibilizada e selecionada pelo assunto. Nesta, todos se veem, se cumprimentam, compartilham o assunto, acatam ou não a opnião posta, discutem e comentam no final. Um chamado ao encontro com outros para tratar determinado enredo. Desta forma, o que ocorre é um saber-se coletivo, um partilhar daquele interesse comum.
Quem será realmente visto nesta assembléia será o elenco, os eleitos, que dominarão o discurso e o desenrolar do tema, pessoas preparadas para cumprir aquela tarefa com gestos, falas, posturas e movimentos adequados e pré-organizados. Naquele momento, representantes de que assiste ante ao enredo que se desenrola.

Posso pensar que a ausência de público a que o teatro foi submetido por determinado tempo seja um desdobramento de uma descrença na política, nos políticos, nas assembléias e câmaras dos representantes políticos. E que em um novo procedimento/posicionamento social, que parece acordar diante da face mascarada da democracia representativa, onde o desejo seja, na verdade, a participação, onde não mais satisfaça se ver representado e sim agente, sujeito de seu ato, o teatro esteja, atualmente, espelhando esse momento, ao menos por aqui. A imersão de territórios de teatro, afirmada no aparecimento de espaços particulares, linguagens específicas, para tal ou tal público, em quantidades menores (não mais grandes teatros, para centenas de pessoas), parece ser a vontade de cada vez mais o público se ver, se sentir participante de uma discussão coletiva.

Bem, a Kátia apresentou bem do jeito dela, com um olhar bastante específico sobre o tema (texto proposto: A exibição das palavras - uma idéia (política) do teatro, de Denis Guénoum). Achei mais interessante expor a própria visão do texto que tentar demonstrar domínio sobre. A Carol Domingues comentou e foi bem direta, colocando exemplos da sua própria trajetória, o que também achei legal, já que tratamos, aqui, de trajetórias.
Seguiu-se o debate, com os mesmos (grilos) falantes de sempre, variando uma ou outra pessoa. Questiono se é falta de leitura do texto proposto (pode ser, pois não gera conexões), ou falta de compreensão do texto (o que não isentaria a participação, pois mesmo o não entendimento gera questões e opniões), ou falta-lhes vivência (pode ser também, mas o debate é um espaço de experienciação, logo a inexperiência pode também ser um instigante), ou será timidez (mas é preciso, então, compreender o espaço que estamos estabelecendo de uma convivência de, pelo menos, 4 anos. E que - sonho romântico - nos formamos também com o conhecimento e experiências dos colegas de turma, não apenas dos professores)?

A Wlad expôs os ajustes no calendário dos nossos futuros encontros (o Seminário de Dramaturgia não estava previsto no nosso caminho) e marcou para um sábado (19/06) a apresentação da elaboração individual do Eu-mundo - resultado cênico de agregamentos sensoriais e intelectuais desta trajetória. Determinou bases para a criação cênica: Um espaço circular, cujo diâmetro teará o tamanho de braços abertos, que poderá ser delimitado por um circulo no chão, paredes, teto, um desses. Cada um deverá mostrar o sua "dança cotidiana" (percurso elaborado num dos trabalhos em sala de aula), poderá usar um objeto luminoso, ou um sonoro, e até três adereços. O figurino será, no mínimo, a roupa que mais gosta (proposta de outro exercício de sala). Solicitou para o próximo encontro um roteiro-objeto, que baseará a criação cênica. Uma obra plástica, composta de partes que representam as cenas que serão desenvolvidas.

Seguimos para o exercício. Eu, que não me fazia presente há uns 3 encontros, motivos colocados nas postagens anteriores, fui convidado a começar algo que a maioria já havia feito: A cadeira vazia. Aquela conversa com alguém que não está presente ali, mas que "está" ali. Foi difícil fugir da cena e fazer uma conversa mesmo, sentí-la, sentir a pessoa presente. Fui e misturei, sem querer, ao conversar com meu irmão, as figuras masculinas da minha família com mais significado para mim: ele mesmo (o meu irmão), meu pai e meu avô paterno. Um papo sereno, coberto de sensações profundas e líricas.
Outros foram depois, mas me tocou profundamente a Adhara conversando com o seu pai. Muitos motivos me fizeram ser tocado por isso, o mais forte é que sou pai de filhas.

domingo, 27 de junho de 2010

O drama, o épico e o pós-dramático (Seminário de Dramaturgia Amazônida)

Neste dia, que seria o 10º Encontro do Trajetórias do Ser, dia 24 de maio de 2010, aconteceu a palestra com Sérgio de Carvalho, paulista da Cia. do Latão, na noite de abertura do Primeiro Seminário de Dramaturgia Amazônida, com tema proposto por ele mesmo: "Aspectos da forma dramática, épica e pós-dramática no teatro atual".
O Sergio fez um apanhado desde o teatro clássico até os dias atuais, com parâmetros principalmente paulistanos. Citou o momento quando a dramaturgia passou a ser importante e de quando o texto foi o centro e o início de tudo nas obras teatrais. Claro, falou de Brecht e do teatro épico, mas não só de Brecht. Sigo, fazendo pinçadas de tudo que ouvi.

Falou do movimento de teatro se fortalecendo nos ultimos anos, em São Paulo, e de como o épico de Brecht voltou a ser lido no movimento de teatro de grupo daquela cidade e do debate em torno disso. Porém na universuidade isso não aconteceu. Na USP, a voga estava no teatro europeu pós-dramático.
O teatro que recusa o drama e não tem personagens. Algo monológico, fragmentário, sem sentido, um possível espelho da dificuldade de comunicação e da velocidade de informações das grandes cidades na contemporaneidade. Mas que não é isso apenas que o caracteriza. Não há uma fórmula, um modelo.
O que via entre os que buscavam o pós-dramático na universidade, em suas produções, é que o medo do drama pode gerar um drama pior que o drama. Mas via também que nos grupos havia um problema com o drama.
Fez então, uma pequena diferenciação entre o clássico, o épico e o pós-dramático.
O que é o drama no teatro? Um tipo de texto, que aparece na história do teatro, concentrado no diálogo entre sujeitos (interpessoal, intersubjetivo), como não havia no clássico (tragédia e comédia). Aparece no renascimento (sec. XVII), com as noções de sujeito, vontade, livre arbítrio (no clássico o que aparece são deveres, não vontades). A tragédia não busca culpados e sim, conflitos de justiças. Personagens envolvidos em erros maiores. No drama os erros são individuais. Esfera pública (clássico) diferente da esfera pessoal (dramático).
O termo "Drama" aparece no sec. XVIII. Diderot usa-o colocando entre a comédia e a tragédia. O drama tira Coro, Canção, etc, tudo que possa interromper o sujeito. Sai do mito para o caráter do personagem, caracteriza o personagem. Na indústria cultural, solicita um modelo, um esquema, só muda o fundo.
O teatro passa por uma desconfiança do drama, o épico, no fim do sec. XIX. Como representar o extra-subjetivo ou intra-subjetivo (a economia, alienação, por exemplo)? Crise do drama no materialismo, surge o teatro moderno, uma tentativa de fazer o palco narrar, usando recursos narrativos de outros tipos, suspende o tempo dramático, esse é o épico.
Na critica de Brecht à ideologia do drama, o épico não recusa o drama, historicisa, revira, mostra a vida como ela não deveria ser. Cria uma expectativa psicológica, dramática e frustrada, e não a resolve. O público leva a expectativa pra casa. Não responde, deixa questões que saem com o público.
A crítica ao teatro épico e dramático é o pós-dramático. Recusa o texto. A cena é autônoma. Rompe com o que o drama e o épico tem em comum: o impulso mimético. Não representa mais o mundo ficcional. Recusa a fábula. A cena livre vai conter a mensagem. O ato performativo é o ativador do público. Tudo pode ser incorporado, porém isso não garante o pós-dramático. A quebra pela quebra pode não ser pós-dramático. Sabe-se o que não é, mas não exatamente o que pode ser.

Importante dizer que o Sérgio apresenta a edição brasileiro do livro que conceitua o teatro pós-dramático, do alemão Hans-Thies Lehmann. Interessante ouvi-lo e já tentar fazer uma ponte com a produção local para o seminário que irei comentar, o último da série dessa Trajetória, com texto da Maria Lúcia de Souza Barros Pupo, o Pós-dramático e a Pedagogia Teatral. Alcanço, no meu parco raciocínio ainda sobre o tema, possibilidades de pós-dramático na cena paraense (belenense). Lembro do Sombra a Lombre, do Nando Lima, lé por volta de 1996. Será?. Será que o Brasileiramente Árabes é?....
bem....fica o elefante na orelha.

ps.: A foto é do espetáculo Leve Barato, de Nando Lima.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Obra de arte é ponto de vista e sensibilidade (9º Encontro - Trajetórias do Ser)

O artista atual dialoga com as tecnologias, tem blogs, sites, fotologs, spaces, comunidades virtuais. Alguns são virtuais. Alguns só são artistas na virtualidade, como avateres do Second Life, nos Facebooks e Flickrs. Alguns fogem da vida real de artistas e vão ser fazendeiros no Orkt. Há quem muda de atividade artística e vai cantar no Youtube. Há quem negue tudo que a tecnologia possa ser, servir ou representar.
Uns usam da tecnologia para reler sua própria atividade, pesquisar influencias, mandá-la para o espaço, deletar conceitos, aglomerar referências. Uns usam a própria para realizar suas obras. Outros inserem-na nos seus fazeres.
O que chamo de tecnologia aqui, já deves ter percebido, é tudo referente ao se consegue dos computadores domésticos, dos nets aos notebooks, celulares aos smartphones, dos hardwares com os mais desenvolvidos softwares combinados aos simples micros domésticos. 
Não creio que deixem de ser sensíveis por isso, pelo contrário, são sensíveis a isso. Usam isso para sensibilizar e multiplicar a exposição, ampliar platéias, formar espectadores.
Não fossem sensíveis, talvez não fossem artistas. Mais, sensibilizam com isso, abrem vias de sensibilidade em quem os consome. Ativam qualquer centelha de emoção pura.
Porém, mais uma vez, a arte dá passos para ser questionada enquanto função, enquanto essência, enquanto conceito. Rompe diariamente limites, que são, por sua vez, também diariamente dilatados. É possível que nem haja mais o que romper, parece que a arte deixou de ter uma referência coletiva comum de enquadramento, para o tocante ao gueto, o que atinge a um grupo, o que serve a uma comunidade.Será preciso, então encontrar um foco de unidade na pluralidade da arte contemporânea, visto que ela está na dilatação da sensibilidade do receptor, na qualidade do sentimento que proporciona?
Por isso, pode-se dizer, que a industria se apropria cada vez mais dos artistas e suas maneiras diferenciadas de percepção do mundo, para tocar esse ou aquele público consumidor. De roupas a embalagens de alimento, do liquidificador ao automóvel, tudo tem dedo do artista.

Quem expôs o tema de hoje foi o Devison, quem comentou foi o Felippe.
Acho que foi um debate importante sobre o que caracteriza a obra de arte. Não respondeu nada, mas isso é o que faz pensar.
Bem..não houve trabalho na segunda parte do encontro. Aquele momento de atividades práticas, quase sempre com desdobramentos, que estamos chamando em sala de Eu-Mundo. Os rodoviários urbanos estavam em greve e para que todos não ficassem na rua tarde da noite, fomos liberados.

Lugar Nenhum (8º Encontro - Trajetórias do Ser)

Não consigo ficar sem literatura, aquela leitura que não é didática ou técnica. Mesmo com trocentoseqüenta textos/capítulos para ler em função da graduação em Licenciatura em Teatro, dos emails das redes de discussão em torno da política pública para teatro, de projetos e prestações de contas a produzir para o In Bust. Mesmo assim, estou lendo tudo do Neil Gaiman que tem em casa  - que tem sido muito importante para as aulas sobre a origem do imaginário, da disciplina de Etnodramaturgia do mito e da poesia, ministradas pelo João de Jesus Paes Loureiro - e exatamente o livro que está na minha cabeceira do imaginário, em fase de devoramento, chama Lugar Nenhum. Um lugar qualquer, em qualquer lugar e tempo, onde o que ocorre é o que importa e tudo tem relação com o lugar e com o momento.

Mas Lugar aqui, no texto Espaço e Lugar - O Lugar da Arte, é usado para designar um espaço físico, um local de convivência ou de acessibilidade, com limites evidentes, como paredes, portas, calçadas, onde algum fato de relacionamento pessoal, porém físico, acontece, como um encontro, uma luta corporal, um jogo, um show de música. E Espaço é determinado pelo fato ocorrido, pela predisposição do lugar, sem necessáriamente ter limites físicos, mais extensivos à sua utilização e visualidade. Exemplo besta: o campo de futebol dos meninos na rua é um espaço no meio do asfalto.
Leva, então, para a arte. A arte tem lugar? ou a arte determina o seu lugar? ou o lugar determina a arte? Quem faz teatro fora do teatro, transforma o lugar e é transformado por ele. Converte-o em teatro. Assim com a galeria ou a arte posta na esquina, na calçada. Uma ação, realizada por uma ou mais pessoas, com ou sem textos ou diálogos, fora de seu lugar devido pode ser considerada um acontecimento teatral? Ou uma ação corriqueira, como beber água, realizada em um palco de um edifícil teatral, pode ser considerada uma cena? Uma bacia de farinha com colheres dentro, posta em uma galeria pode ser considerada uma obra de arte? 
Bem...questões que talvez ficarão para a contemporaneidade artística não responder. Quem responde? Talvez o espectador, consumidor, usuário (ou não) de artes.
Fica uma resposta de Cláudia Paim, que encontrei na net: "A arte hoje não precisa de um lugar próprio, qualquer espaço pode ser um local para ela, mesmo porque a arte acontece por meio das relações artísticas que o artista estabelece, e isso pode ser em qualquer lugar".

Estava em circulação por municípios do Estado com o espetáculo Catolé e Caraminguás, com o In Bust. Acabamos chegando tarde de Marabá, depois de um roubo do material de cena da Van de madrugada, pois precisamos ficar algumas horas à disposição do tempo e da inoperancia do funcionalismo público (que ao final não nos atendeu porque não chegou, o Delegado) na manhã deste dia. Todo o cronometrado se perdeu. Perdi, então, esse encontro.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Em constante pesquisa de soluções provisórias (7º Encontro - Trajetórias do Ser)

Eis o momento em que me deparei com o (talvez) objetivo deste curso. Está em formação a ciência de ser um artista formador. Sou ator, mas sou também educador e, assim, formador. Talvez esse seja o impulso para estar nessa trajetória, ou nesse trecho da minha trajetória.
Há muito, teatro deixou de ser apenas teatro para mim. Vou ao passo do ponto em que primeiro preciso me formar para fazer teatro e isso inclui vários saberes, práticos, como essencial, mas teóricos, como vestimentas. A prática é a do dia-a-dia de trabalhador de teatro, artísta operário, que vive, se sustenta, sustenta os filhos, desse labor. Mas do antes disso, quando era mera diversão, depois passa tempo terapeutico, depois bico divertido. Depois, que segue até agora, o trabalho que tomou conta da vida. O teórico é o tudo que de lá até aqui precisei absorver de leituras e de escritas. Das inúmeras pesquisas de personagens. Dos livros dos pensadores do teatro mundial. Das investigações a cerca da prática realizada. Dos escritos de elaborações e processamentos críticos do intelecto que não para de pensar nisso. Das oficinas ministradas e absorvidas, como aluno ou como ministrante.
Daí à percepção da necessidade da arte para o ser humano. Como artísta trabalhador, acredito no meu fazer como transformador social, nunca desacoplado do caráter educativo, que tem que estar presente em todo o tecido da criação da obra, incluindo a relação com a platéia e o que se quer disso. É no jogo, espírito e carne do teatro, que a formação, o educativo, precisa se mostrar. No jogo da cena é que os papeis vão ser definidos, as relações vão acontecer, o drama vai sacudir a experiência, a trama vai ser destrinchada. Jogo que não exclui a platéia como mais um jogador.
Mas aqui o assunto extrapola a apresentação teatral e a platéia, ou desloca-os das formalidades do ato teatral, dos palcos instituídos, cadeiras, arquibancadas, dos teatros, para salas de aula, ambientes de empresas, ruas (e outras alternativas) como espaço pedagógico. O jogo teatral, ou as suas virtudes, que se faz nescessário aos campos das atividades humanas. Ao professor, ao padre, ao juiz, ao médico, ao vendendor, etc. Jogos teatrais para não-teatreiros. Ou simplesmente o jogo, não a disputa, o jogo.
O jogo e sua estrutura. As regras, os objetivos, as demandas, os jogadores, os acessórios (instrumentos/ferramentas, vestimentas), as possibilidades de jogadas, as maneiras de realizar, as variações/desdobramentos ditados pela necessidade do próprio jogo. 
Fui cair aí porque, de fato, ao me deparar com a necessidade do jogo para o ser humano, entendo mais ainda a importância do teatro para os indivíduos em situações de sociedade.
Bem...esse foi o dia em que o Maurício apresentou o tema e o Ramon comentou, tudo foi acontecendo concomitantemente. Quer dizer, no início o Maurício foi apresentando, e, no decorrer, o Ramon solicitou o comentário concomitante.
Mas.... precisei sair bem no momento em que achava que estava terminando essa parte do encontro. Fui chamado para uma força-tarefa de combate à virose que atacava uma das minhas filhas....Claro que fui.
Sei que depois, depois me contaram, houve a continuação da contação de causos fantásticos e ocultos, acontecidos no seio das famílias... é o que me foi dito.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

El Avaro de Molière (Cía. Tàbola Rassa) - Objeto como sujeito II

Objeto como sujeito (6º Encontro - Trajetórias do Ser)

Foi a idéia de uma luz viva que me chamou. A luz da lâmpada, da lâmpada à óleo. Ela tem vida por uma relação direta e permanente com determinado sujeito, com determinada pessoa, por acompanhá-lo pelos cômodos da casa. Mas também por ter movimento, por alterar o ambiente, por consumir oxigênio, por precisar ser alimentada para existir. Muito diferente da luz da lâmpada elétrica, que é do ambiente, não do sujeito.
Mas mudando da luz para a lâmpada, ou atribuindo-lhe a propriedade da luz, a posse dela, afinal é ao objeto que o apego vai se constituir, ainda que seja a sua luz o apelo afetivo. Podemos, então, compará-la (a lâmpada) a qualquer objeto. Por acompanhar e ser importante para tal pessoa, o objeto ganha contornos de uma companhia, vira íntimo. A cadeira, o travesseiro, o porta documentos, a bolsa, os óculos, a pulseira, o bicho de pelúcia. Importante porque tem valores agregados, não apenas materiais, mas camadas visíveis apenas para quem de direito. Estratos de afetos e memórias, claro, obscuros ao olhar leigo do estranho.Talvez o tempo de "vida" do objeto valoroso o qualifique ainda mais, vestindo-o de relíquia para além do seu próprio dono.
A coisice, a objetice, a utensilidade, talvez palavras semelhantes - não sinônimas, não acho que sinônimos existem, elas são individuais como as pessoas. Em determinado momento uma pessoa pode se parecer com outra, servir para exemplificar ou comparar a outra, pode até, com treino, significar a outra, mas nunca será ou dirá o que a outra é ou diz. Objetos também são individuais se têm relação com a pessoa, mesmo os feito em série - algumas inventadas para dizer que a utilidade vai além do seu uso, vai ao nível da personificação. Ou, para designar o quê do objeto pode compor o/um sujeto. Ou, se tal objeto fosse um sujeito que traços de personalidade lhe seria atribuído, que comportamento ele teria, qual seu cotidiano. Ou para determinar o quanto de subjetividade foi-lhe atribuido pelo seu uso. Ana Maria Amaral, pensadora do teatro de formas animadas, se utiliza disso para trabalhar a animação de objetos em cena aplicando-lhes os seus atributos como traços da sua personalidade.
Renan usou uma apresentação do power point para expor o tema. Achei que foi mera reprodução do texto, com a composição de uma sequência de slides com imagens de fundo que por vezes atraplharam o que deveria ser a atenção da lâmina. Adhara, não foi direto ao assunto, contextualizou angustias próprias para mostrar objetos de um espetáculo que havia participado, levando-me na memória aos objetos das cenas que eu mesmo estive em espetáculos bem pautados em objetos, como as malas, flores, cartas, aquários, guarda-chuvas das obras da Cia Atores Contemporâneos.
Para seguir, fomos ao ponto das atividades que visam desdobrametos. A de hoje foi um desdobramento da atividade do encontro anterior. Foi proposto apenas que as pessoas contasem, em suas duplas/casais (no meu caso, um trio), causos acontecidos na família que tenham uma caráter fantástico, no sentido do oculto, do sobrenatural. Ives/Laion, Devison/Patrícia, Felipe/Kátia foram os que depois foram convocados pela Wlad para contarem seus causos para todos. Por fim, cada um dos que assistiram apontou os trechos/imagens de cada história que mais lhe chamou atenção.
Não deu tempo de um bom bate papo.

domingo, 2 de maio de 2010

A memória como matéria para o Eu-mundo (5º Encontro - Trajetórias do Ser)


Cheiro inevitavelmente espaços, tempos, pessoas e coisas. Cheiro filmes, no cinema e na tv, mesmo os piratas e os sobre piratas, cheiro até desenho animado. Quem não lembra do cheiro do Jamal caindo dentro da privada a céu aberto em "Quem Quer Ser Milionário?" Teatro, então, se os produtores, diretores de peças, atores e atrizes, cenógrafos, dramaturgos e dramaturgues, figurinistas, maquiadores, camareiras, iluminadoras, se esses não se preocuparem com o cheiro que vai compor a dramaturgia, sinto os ácaros das rotundas e das infiltrações ou a água sanitária do pano molhado que foi usado pra tentar tirar os ácaros. Os ácaros e a água sanitária me incomodam.
A Carmem Manito disse - e apesar da voz um pouco mirrada que ela tem, disse bem e mostrou bem o tema proposto - dizendo que foi a Lúcia Santaella que disse primeiro (e eu vi mesmo que foi ela), que os cheiros, inclusive o dos ácaros e da água sanitária, por serem agentes químicos, atingem um tipo de neurônio que só registra para a posteridade uma vaga lembrança da situação em que o cheiro estava inserido e essa vaga lembrança é, na verdade, uma memória afetiva, não imagética, ligada a algum prazer ou desprazer vivido. Por mais que eu reconheça o cheiro dos ácaros e imediatamente detecte que eles estão se divertindo, pulando, gritando, voando em minha volta, isso tudo é apenas um remetimento a alguma sensação afetiva vivida, provavelmente desagradável, um desprazer. O desagradável também é por conta da reação física que ele me provoca: coça o mais profundo do meu ser nasal, e quanto mais eu imagino que eles (ácaros) estão entrando nas minhas vias respiratórias, mais eloquente e dolorosa é a reação.
Para não ir adiante no assunto dos ácaros dos teatros e tornar desagradével a memória do cheiro do almoço que estou tendo o prazer de sentir agora, vou adiante no acontecido. Marcou-me a informação de que o sentido olfativo é o que mais se compara a sensações e lembranças infantis exatamente por estar relacionado aos afetos. De cheiros, lembro principalmente fases da vida. Longe, na minha pequena longa infância, o quintal de casa molhado, os cachorrorrinhos recém-nascidos, o vento do Rio de Janeiro, o pão doce da merenda da escola, a cozinha e o poço da casa da minha bisavó, a minha outra bisa depois do banho. Mais perto um pouco, amores passados, nas ruas, nos sofás, beijos longos, a chuva na Prça Batista Campos, as salas de ensaio com muita disposição e descobertas, muito cigarro, meus bebês, pom-pom e leitinho. Bem pertinho, momentos mais íntimos, cama com filme no fim de semana, café no fim da tarde, a chuva em Santa Catarina, a empada de São Paulo, a feira de Caruarú, as ruas de Salvador, momentos de Brasília, estradas de terra e beiras de rio, o Casarão do Boneco, minha filhas. Tudo são cheiros, mas são sabores, visões, sensações térmicas.
Mas o João Guilherme, que teve que juntar o apelo afetivo do cheiro ao teatro, fez questão de me levar direto ao final dos anos 80 e início dos 90. Nossa! Uma enxurrada de memórias afetivas, prazerosas e não, derramou imagens enevoadas que aos poucos foram tomando cores e contornos nítidos ao meu sentido áptico. Ele trouxe "O Genet, o Palhaço de Deus" e "Em Nome do Amor", da época em que me entregava totalmente ao ser ator, me destruia e recontruia a cada nova montagem.
Nesse papo de juntar cheiro e teatro, lemramos de peças que nem tinham o cheiro, mas a imagem deste era o suficiente para que ele existisse. Como o cheiro de banheiro público em "Dama da Noite" ou do pastelão quentinho em "Farças Medievais".
Mas falei do sentido áptico lá em cima e nem disse nada sobre ele. Saber dele, como novidade pra mim, também foi marcante. O sentido que vai além, é um sistema. Se pensarmos nos sentidos como sistemas e compreendermos a complexidade de cada um, poderemos buscar em nós mesmo que sensações temos quando juntamos os sentidos. Mais ainda quando percebemos a importância deles para a memória. O áptico, que junta todas as sensações táteis do nosso maior órgão, mesmo as internas, e é completado com o que de cada um dos outros sentidos leva ao tato e, disso, à memória, é talvez o nosso principal registrador e catalogador de sensações.
Na sequência do esquema dos encontros/aulas, a proposta, chamada de Eu-mundo, colocou espontaneamente dois casais formados nas aulas anteriores para uma ativação da memória afetiva e fantástica. Um dos dois do casal conversaria com alguém real, que lá estava representado por uma cadeira vazia, um assunto que sempre quis e não teve oportunidade de realizar (ainda ou nunca mais terá). O outro contaria uma história fantástica, relacionada a assuntos ocultos, acontecida no âmbito da família.
Os dois casais, um de cada vez, passaram por momentos que remeteram á função terapeutica do teatro. Uma espécie de desabafo, no papo e na história contada, foi o que apareceu corajosamente, posto com muita emoção por nossos colegas de trajetória. A fala para o amor terminado, o nuca mais dito ao parente mais amado pela ausência inevitável imposta pelo fim da vida, levou todos que assistiam para os seus próprios amores terminados e aos seu mortos cuja palavra nunca mais será ouvida. Alguém que se foi, mas que ainda está ali. A respiração de quem conta dá a dica da profundidade e distância do registro da memória. Teminou com abraços entre os casais, aquele abraço da aula anterior. Exercício de caráter teatral de resgate das memórias como matéria prima para composição artística.
É preciso dizer que mesmo que o comando não tenha sido observado na sua completude,  pelo fato de a matéria posta ser rica, a condução permitiu que se seguisse. Explico: nenhum dos participantes resposáveis por contar algo do universo fantástico e oculto o fez. Quer dizer, isso depende um pouco da interpreação de quem estava vendo, mas, à rigor, ninguém foi nesse rumo.

domingo, 18 de abril de 2010

Holocausto dos Sentidos (Trajetórias do Ser - 4º Encontro)


Escuridão (para olhar somente para) e holocausto estavam postos para o entendimento forçado da crise das sensações de quem quer que estivesse ali, querendo ou não ver, disposto a entender por quê daquilo. Isso é a anestesia ou uma marretada na cabeça? Talvez uma legenda passando embaixo (ou em cima, bem no meio daquelas imagens, ocupando a tela toda, para não precisar ver o de trás) fosse o instrumento básico à compreensão da necessidade daquilo. Talvez, quem sabe, numa radicalidade císmica e abissal, fosse ainda adequado, junto com o que se via na tela, alcançar os nossos sistemas sensórios com, sei lá, algo como carne crua semi estragada para aguçar nossos olfatos nauseantes, ou um camburão de gás com a válvula aberta, enquanto uma sopa rala de batata fosse servida sem sal, vez em quando uma sirêne soasse seguida de sons de disparo de tiros. É, talvez entendesse mais o sentido do holocausto naquele momento para o assunto em pauta.
(Ativar e misturar nossos sentidos é papo para a próxima aula).
É crítico mesmo esse nosso estado de permanente urbanidade, programado, inserido no cotidiano forçadamente sem o nos dar conta, sem atendermos a natureza das sensações. Algo como isso aí ao lado: um monitor dos sentidos, capaz de relacionar os 5 em atividades pré-programadas, talvez o futuro do áudio-visual, o audio-visual-olfatogustativo-tátil. (caí no tema da próxima de novo), tudo sintético.
A síntese das sensações de se relacioar com o meio na velocidade da compressão temporal das sobrevivências contemporâneas, para além de sentido em qualquer narrativa cotidiana. Estamos, então, em estado de sonho, tentando reencantar a existência ao sumo das tecnologias ? Ainda acho isso mera suposição até que o ser urbano perceba mesmo à sua volta.
Essa missão, de resgate cinematográfico (ou teatral) do que resta de "eu sensível" em cada humanidade citadina, pode ser árdua tarefa para as artes teatrais, capazes de aguçar e reverberar memórias sensoriais, em todas as combinações e ordens que os sentidos podem se colocar, mas há de ser frutífera, ainda que o aplauso no final seja escasso.
Pós apresentação do Laion e do Romário, não houve comentários. As comentadoras não foram. Mas o debate foi. Não foi por todos. A Wlad insiste que o debate rola sempre entre os mesmos porque são só os mesmos que lêem sempre o texto/tema do dia. Talvez sim, mas, sinto muito, eu estou lá pra isso e vou seguir assim. O problema é que as diversidades e multiplicidades desaparecem e só os mesmos pontos de vistas e referências são trazidos à mesa.
Como ainda não saí da minha fase de chato perguntador insistente, tive que saber qual a intenção daquele vídeo na exposição do tema. Mesmo com ajuda dos universitários o propósito posto não convenceu meu mínimo eu, mas vou seguir me esforçando para uma leitura adequada daquele quadro educativo. Estamos numa graduação para licenciatura, não é? Aquilo foi um material didático e eu tenho que tentar entender para que serviu, sem ter tido, no entanto, uma razão que o mantenha. (Holocausto dos sentidos? seria essa a leitura?)
O trabalho da noite foi um desdobramento do trabalho da semana passada. Escolhas de pares para realizar uma composição das ações criadas na semana anterior, com a inserção de abraços (os mais preferidos por cada ser do casal formado) no meio das apresentações do cotidiano antes do sono estilizado. Não mensionei na postagem anterior que precisavamos levar uma roupa preferida para realizar a cena.
Componho um casal triplo. Estou com o Rafael e a Maira. Eu e o Rafael levamos camisetas iguais. Acabou compondo o figurino. Ficamos na proposta da composição da cena, mas não concluímos. Temos que apresentar na próxima, para isso, planejar um ensaio antes....até agora não conseguimos esse momento.
Meu temor, nesse encontro, o 4º, caiu por palco à baixo, conseguimos um tempo grande de bate papo no final. É mesmo necessário.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Se Não For, Quem Será? (Trajetórias do Ser - 3º encontro)

Não sei ao certo a distância, o tamanho, o percurso, a voz, o nome. Se tinha som, não memoro. Se causa ou efeito, esse eu não vi. Foi pontual? Desconfio! Quem foi, foi, viu, ouviu, não sei quem eram. Eu falei e alguns também. Mas não ouvi a voz de quem deveria de primeiro. De segundo, sim. De terceiro, foi bacana. O quarto, ich,nem se fala! Parece que o pique foi pegando pelo rumo da prosa, mas não acho que tolhimentos sejam apreciados, nem imposições. Se há regras, há de se seguí-las ou quebrá-las. Questioná-las, não na hora. E se conheço mais que tu e tu mais que eu, então que falemos sobre, desde que sigamos o enredo do dia. Meu temor é que o tempo não jorre!!

A cena foi da Rose. Ela pôs suas memórias pra quase não chegar a tempo ao telefone. Mas a apresentação do tema foi fora do tempo, rançou a minha memória. Não conectou, porém, ao comentário seguido do Ives. Esse e o outro foram meros ilustrativos e quase repetitivos ao que já estava escrito e, dessa vez, lido por mim.
Sem conexão mesmo foi o debate, meio sem ritmo, sem cor, quase uma memória velha.
Mas ficou, da Iracema Vôa e do PRC5 (eu citei o 80 Já Era), exemplos do Ives, na minha cabeça, já meio embaralhada, que a obra artística (teatro no nosso caso) que lida com a matéria da memória, para o tempo ou imprime um tempo subjetivo.

Patrick tratou do tema da memória como espaço territorial subjetivo. Assim eu entendi o lido e o falado. Markson trouxe a lembrança do grupo Nós de Teatro forjada em cena como um retrospecto de imagens em outro (con)texto.

O que se seguiu, driblou as possibilidades inexistentes de uma compreensão única do texto/tema proposto. Ótimo! Não somos mesmo diversos e mutiplos? Não é o teatro, como expressão artística, um meio e um fim aos diversos conhecimentos? Pergunto ao meu caro notável clown: se não for o Silvano a trazer aos nossos debates o conhecimento da geografia, quem o fará com propriedade? Se não fores tu a trazer a velha e a nova filosofia (que aliás já fazes), quem será esse? Ou então, não nos servirão em sala de aula, em plenos debates, os conhecimentos católicos da Patrícia, os sobre o Espiritismo, do Renan, a vivência da Katia, os meus, sobre teatro com bonecos, os de jornalismo, que a Deli e, posteriormente, a Adhara possam nos trazer, e os escritos do Ramon, a multiface artística da Rose e etc..etc...
Eu acredito que até a caveira, nossa colega de auditório, se estiver de acordo com o tema do debate, lido o texto proposto, se inteirado do assunto, pode e deve participar com a bagagem que já tem.

Comprimimos o tempo e reduzimos totalmente o espaço, na experiência do dia proposta pela Wlad. Nada mais catalizador de idéias. Num mínimo espaço, com gestos pequenos e movimentos quase reais, reproduzimos coletivamente, mas individualmente, o momento, depois da aula, entre botar a chave na porta de casa e deitar para dormir. Ao deitar (na reprodução), sentava-se. Até o ultimo sentar foi possível observar alguns ainda em plena atuação.
Foi ir a outros tempos e espaços.
Desdobramentos: 1-Aumentar a dimensão dos gestos. 2-Aumentar a utilização do espaço. 3-tudo, gestos e espaços, mera significação, um engano a quem vê.
Para casa: trazer e apresentar individualmente, o ultimo desdobramento, calçado de uma música que ninguém saberá qual é.

O bom e velho papo, a conversa do fim do dia, não está vingando. Só há tempo para o necessário. Mas isso é tema do próximo encontro.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O Quê Não Li? (Trajetórias do ser - 2º Encontro)

Bem...resistindo à essa escrita...

A sala, a 5, estava arrumada para uma aula. Cadeiras de um lado, logo à entrada, com alguns alunos já sentados, e do outro, computador, telão, projetor, apresentador. Silvano! Ah, sim! Era o 1º seminário da série, o Silvano iria apresentar e a Patrícia comentar.
Não, não que tivesse esquecido, apenas não consegui o texto à tempo e, claro, não li. Declarei isso na entrada. Quando percebi que não deveria ter declarado, já no debate, após a apresentação e o comentário, era tarde, já era a sentença, declarada em palavras amenas, de que não serve para o debate o entendimento da apresentação se não tiver lido o texto. Ainda que diga, ainda que lembre, ainda que associe, sem a base proposta como orientação não há contribuição consistente. Nada de impressões pessoais, experiências vividas, saberes adqiridos, sem o texto lido. OK!! Calei-me!! Não compreendi, mas entendi o posicionamento e calei!! Talvez, da próxima, não declare o ocorrido, para não me calar, não voltei à universidade para ficar calado.
O Texto que não li (agora eu já li) era um livro, á semelhança dos antigos da série Primeiros Passos, pequeno e rápido, com o nome de Narrativas Enviesadas, de Kátia Canton, acho que da Brasiliense. Narrativas Enviesadas, o tema, perdurou o resto da semana, e mais seis meses, entre os assuntos da turma. Do lanche à aula de psicologia, do boteco da quarta ao ovo da páscoa, tudo pareceu, depois deste encontro, meio rompido da sua estrutura narrativa, imageticamente meio enviesado. Em algum lugar tinha alguma coisa meio fora do lugar compondo uma comunicação, proposital ou não.
O texto, já na apresentação, e, depois, na leitura, lembrou-me as investidas do teatro pós grandes guerras mundiais na seara do teatro de bonecos. Num período em que o teatro se esvaia em sua estrutura narrativa, um dos estepes acoplados para sua modernização foi a linguagem que os bonequeiros utilizavam sem o conhecimento das estruturas formais do teatro da época. Os bonequeiros que a partir daí apareceram, para além dos improvisos e das frouxuras amadoras comuns ao teatro de bonecos do ocidente, truxeram, entre outras coucitas, para dentro da sua expressão figuras de linguagem, como a metáfora. E hoje, ainda, talvez pela proximidade com as artes visuais e até com a dança, é dificil encontrar um espetáculo de animação que não se ocupe de um enviesamento na sua narrativa.
Sigamos na aula. Rose citou a colagem com as falas da aula anterior que lhe saltaram aos ouvidos criativos, uma poesia. Ramon, coincidentemente (não que eu acredite nisso, mas isso existe), também juntou frases daquele encontro em uma espécie de hai kai.
O blog do dia foi o da Maira Tupinambá. Esse exercício é bom, pois nos permite ver a própria pessoa lendo algo que ela escreveu para ser lido. Saramago disse que as palavras só tem seu real significado quando ditas. Aqui se percebe isso.
O jogo foi uma lembrança mais antiga. Esta posta, seria reproduzida por seu autor. Outros atores, representando o núcleo familiar do autor, apenas reproduziam o "movimento do coração". Depois de um tempo o autor/ator saia para dar lugar a um substituto na ação, para observar de fora.
Desdobramentos: O autor escolhe os atores para serem a sua família. Muda-se o proponente (condutor). Experimentaram esta função o Rafael e o Lendro.
Bem, a experiência deste dia me levou a abrir uma página para postar parenteses das postagens do blog central. Talvez funcione para colocar coisas que tem uma relação direta com a postagem, mas que tiram o foco do assunto.

domingo, 28 de março de 2010

Sedimentar a Expectativa (Trajetórias do Ser - 1º Encontro)

Sala quase repleta de todos que matariam finalmente a minha curiosidade de quem seriam os calouros da segunda turma de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal do Pará. Disse "quase repleta" porque, finalmente, mais ou menos um hora depois da aula ter iniciado, quando sedimentou a expectativa de que ninguém mais chegaria, ainda faltavam 03 pessoas. Duas, das quais, eram calouros, uma eu já sabia quem era...
Esse não seria só o primeiro encontro da disciplina Trajetorias do Ser, ministrada pela Wlad Lima. Não. Seria a primeira aula desta turma. A expectativa era encontrar a turma que, no meu sonho romântico, seguirá em companhia até o fim, no curso deste curso. Bem, não foi hoje, mas foi. Foi única e especial essa volta à universidade. Como se estivesse em um ar já conhecido, mas renovador e promissor.
Sigamos!

1° encontro.
Quando a turma foi convidada a entrar na sala 5 da Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará - ETDUFPA - sala que parece um laboratório de cena teatral, uma caixa preta, com equipamento de luz em varas no teto e equipamento básico de sonorização, piso de tábuas corridas, como em um palco - as cadeiras estavam colocadas como uma platéia à italiana ou como uma sala de aula. A primeira dinamica proposta impulsivamente pela Wlad foi que todos deixassem seus pertences em um canto da sala, pegassem apenas o que fosse indispensável, desligassem seus celulares, pegassem uma cadeira e formassem um círculo para continuar.
Feito, a Wlad começou explicando a trajetória da disciplina após distribuir uma apostila constando um esquemão do curso. Foi um tempo nisso.

Pesquei algumas palavras, que ficaram como uma nuvem de tags: Diversidade, pluralidade, multiplicidade, especificidade. E frases referentes a essas palavras, tipo: Isso é o que há! é o que os diretores encontram nos elencos!! A cena é o objeto de estudo!

Também achei que, ao falar do seu próprio curriculo, a Wlad estava propondo que todos fizessem o seu, ou pelo menos algo parecido. Sugeriu que, além das atividades, itens comuns em um curriculo, se colocasse algo específico sobre a sua área de trabalho, foco da sua atuação e o que está fazendo agora. Vou olhar o meu e aproveitar para atualizá-lo, quem sabe, postar aqui.

Pelo que entendi, todas as aulas/encontros terão um esquema básico, comum a todas, que estava na dita apostila (estranhei esse nome "apostila")

Um dos pontos desse esquema comum as aulas/encontros será um exercício, ao qual, do meu entendimento, atribuo um caráter de experimentação cênica, algo como uma dinâmica de grupo (usando um sentido mais raso do termo). O deste encontro foi o seguinte: Uma cadeira posta em um dos pontos da roda, como um lugar vazio, seria o palco onde todos deveriam ir para dizer de si e dizer o que sabia sobre teatro. O foco da atividade foi: Me por em cena. Todos deveriam passar pelo "palco". Todos passaram.
Na ordem de idas ao palcadeira, com algumas citações que piscaram pra mim e com alguns comentários (quando apareceram): Renan (disputou o desvirginamento da cadeira com o Icaro e colocou-a no meio da roda); Icaro (trajetória para chegar no curso, reprovação no vestibular, aceitação na turma passada); Carmen (cria do curro); Adhara (17 anos, fazendo teatro no colégio, preocupada em não ser só um grupo de colégio); Kátia (gosto de ser platéia); Caroline (UNIPOP, sei o que aprendi com a Marluce Oliveira); Romário (artes visuais); Eu (trabalho sobrevivência); Rafael (aparente revolta por não viver de teatro. Tem que fazer e acabar o que fez); Leandro (sou satanás. ...se Deus quiser); Walace (cenografia); Ivis (bacharel em biologia, Administração, psicopata, disturbio de atenção); Maira (teatro como terapia); Devison (confuso); Maurício (se não fosse o teatro estaria em má companhia); Felipe (de Cametá. Nunca fez teatro, só viu teatro na semana do calouro); Kayo (meio tímido); Ramon (faço as coisas me entregando para os impulsos. Quero ser minha vitrine); Patrik (Letras/Alemão. Sempre vi as artes me rodeando. Muita coisa do teatro faz parte do cotidiano. Teatro é vida); Patrícia (amo meu nome. Estou com medo de vocês. Católica. Ps.: falou por uns 15 minutos. Segurou todos, ficou totalmente à vontade na cadeira/palco, só falou da sua vida. Ficamos intimos dela); Regiane (grupo cênico do Curro velho); Jean Lion (Gracinha com o seu dedo do pé defeituoso para ganhar a platéia. Foi genérico); Silvano (trabalho com geografia. Teatro é uma mistura, uma trama. Saiam trabalhadores da educação); Markson (trabalhador de teatro. Letras/Alemão); Rose (Prazer em estar aqui).
Foi longo, mas o panorama das palavras da nuvem de tags, que citei acima, estava exposto.

Seguimos para outro ponto do esquema recorrente: Seminários. Teremos 12 seminários, nos próximos 12 encontros. Cada um terá um tema/texto. Cada um terá um Expositor, que apresentará o tema/texto do dia, um Comentador, que comentará o tema/texto do dia relacionando-o à atividade teatral da cidade, todos os outros serão debatedores. As datas e as funções foram sorteadas, acho que os temas já estão programados por datas, mas ainda não temos o caderno com eles.
O plano ficou assim:
Plano de Seminários para Trajetórias do Ser - 01º sem.2010

(data Expositor/Comentador)
29/mar Silvano/Patrícia
05/abr Rose/Ivis
12/abr Laion/Regiane
19/abr Carmem/João Guilherme
26/abr Renan/Adhara
03/mai Maurício/Ramon
10/mai Kayo/Rafael
17/mai Devisson/Felipe
24/mai Kátia/Caroline
31/mai Maira/Icaro
07/jun Walace/Deliane
14/jun Leandro/Paulo

Seguimos no esquema. Todo exercício que será proposto pela Wlad terá um momento para ser desdobrado. Qualquer um pode propor esse desdobramento, que pode ser desdobrado e desdobrado...até ficar interessante ao experimento cênico. Isso vai nos colocar sempre, além de participante ativo, como um observador atento. Ou seja, voltando aos tags, mutiplicidade. Afinal, qual teatreiro nessa cidade não faz mais de uma coisa ao mesmo tempo?
O desdobramento hoje foi só um exemplo do que pode acontecer. Wlad propôs que 4 pessoas fossem até o centro e achasse a sua posição cotidiana de sono. Essa seria a posição 0. E, de pés, encontrassem uma posição de total desequilíbrio. Essa seria a posição 1. Da 0 até a 1, cada um deles deveria ir falando uma frase da sua apresentação no palcadeira que tenha lhe marcado.
Mais desdobramentos: alterar a forma de falar a frase enquanto emprega os movimentos, brincar com as palavras, acentuar alguma ou mesmo modificar. Falar as duas frases. etc.

A ultima parte do esquema, que será um bate-papo, algo que sugere a necessidade dos artistas irem para bares falar com os seus pares após os ensaios, montagens e eparesentações (sugestão da Wlad, que eu sei muito bem o que é), foi corrida. O tempo já tinha acabado. Temo que isso possa acontecer sempre. Mas vamos ver... Bem, foi meio polêmico, devido a opniões divergentes (ainda bem) e assim, vamos nos posicionando.

Incrível que dinâmica em sala de aula não tem haver com movimento físico. Praticamente ficamos o encontro todo sentados em nossas cadeiras, mas, eu, pelo menos, não consegui ficar quieto. O cérebro estava em alta frequencia. Não teve bar para depois, mas ainda bem que tinha um aniversário com amigos, pena que não tinha nenhum colega de sala para seguirmos falando.

Valeu!!