Exercícios para a cena

“SURPRESA!”


Roteiro base para uma experiência de vídeo-teatro.
Exercício na Disciplina de Cenografia (Prof. Bruce Monteiro), 
com ADHARA BELO, DELIANNE LIMA, PAULO RICARDO NASCIMENTO, RAMÓN RIVERA e RENAN DELMONT

2º semestre de 2010



Apresentação

A tarefa de construir uma cenografia, como exercício, foi posta de maneira a permitir a livre criação, sem base teórica ou indicativo, nem classificação de tipos e maneiras de execução, nem tampouco treino técnico. Porém houve momento de discussão em sala com levantamento de questionamentos e ilustração de possibilidades.
O grupo partiu da idéia de que a cenografia precisava ser pensada e executada a partir de uma dramaturgia. Não um mero objeto plástico exposto, mas algo que realmente pudesse compor uma cena e ter uma “fala” adequada à obra realizada.
Como primeiro passo, então, deu-se a criação de um roteiro dramatúrgico para uma experimentação em vídeo-teatro.  



Sinopse

Grupo de amigos chega de surpresa na casa de outro amigo para comemorar seu aniversário. Levam balões, bolo com velinhas, chapéus em cone, língua de sogra, etc. Fazem a festa na sala da casa do amigo. Num determinado momento ele diz: “Gente, vocês não existem!” e tudo desaparece. O Aniversariante fica diante do seu computador comendo bolo com um chapeuzinho em cone.


Proposta de execução

Toda a sequência da festa no apartamento será vídeo. O apartamento, que estava ocupado apenas com a mesa do computador, irá aos poucos sendo preenchido por móveis grandiosos, declarando o caráter onírico do evento. Na fala do aniversariante, “Gente, vocês não existem!”, há uma transição para teatro, quando todos os amigos da festa estarão em seus computadores, cada um isolado em um lugar do palco, como se estivessem cada um em sua casa, em sua solidão.


Em vídeo:

CENA 1
Plano aberto da sala. A sala, quase totalmente vazia, vê-se apenas Horácio no computador, que está sob uma mesa simples, dessas de bar, e a porta do apartamento ao fundo. Paredes sujas, pintura velha, áreas com manchas de infiltração no teto, uma luminária comum de lâmpada fluorescente. Toca a campainha. Horácio, entediado, demora a reagir. Toca novamente a campainha. Ele levanta e vai até a porta.

CENA 2
Plano fechado, vê-se Horácio abrindo a porta. Ao abrir, estão 5 amigo(a)s com balões, bolo com velinhas, chapéus em cone, língua de sogra, etc, gritam: SURPRESA!!

O(a)s amigo(a)s vão entrando. Todos estão com roupas comuns do dia-a-dia (jeans, camiseta, tênis) Passam um por um para dentro parabenizando Horácio. O barulho de todos falando ao mesmo tempo toma conta do ambiente e não para.
Horácio fecha a porta e vira-se para a sala.

CENA 3
Plano aberto da sala, agora do ponto de vista da porta. A sala está totalmente enfeitada com balões, onde havia o computador está o bolo. Os cinco já estão cada um com uma taça. Alguém entrega uma taça para ele e acontece um brinde. Ao final do brinde alguém propõe cantar parabéns. Horácio olha para a mesa.
Detalhe da mesa:
A mesa agora é grande e está cheia de doces brindes, etc
Alguém apaga a luz. Detalhe de um lustre apagando (sug. Lustre Theatro da Paz).

CENA 4
Final do parabéns.
A luz acende.
Detalhe do Bolo, que agora é um bolo enorme e já cortado.
Movimento da Câmera pela sala. Todos estão com pratinhos de bolo, sentados em sofá e poltronas grandes e pomposos. Todos estão com roupas elegantes. Muitos balões e enfeites de aniversário pelas paredes.

CENA 5
Close no Horácio, com um pratinho de bolo com uma velinha acesa em cima, chapeu de aniversário, muito feliz, diz: “ai, gente, vocês não existem!” e sopra a vela.

Em Teatro:
CENA 6: O Aniversariante está diante do seu computador comendo bolo com um chapeuzinho em cone. Aos poucos, cada um daquele grupo que estava em vídeo, aparece em lugares diferentes do palco. Cada um com seu computador, teclando solitários.
Horácio está em seu twitter (sendo projetado no palco). Digita: “Hoje é meu aniversário”. (ver frase mais cômica ou mais incisiva quanto a solidão dele). Respostas aparecem sendo digitadas.

Sobe letreiro.
Tudo se apaga no palco.
Fim do vídeo.



.............................................................................................................................................
CLARICE LISPECTOR PARA A CENA DE TEATRO COM BONECOS
Exercício da Disciplina de Produção Textual para a Cena, ministrada pela Profrª. Bene Martins
1º semestre de 2010

ROTEIRO
 1ª opção

É a vida, minha senhora!
Ou
Vertigem de Viver
(nomes provisórios)

Baseado no conto “Ruído de Passos”, de Clarice Lispector,
do livro A Via Crucis do Corpo


  
Personagens
Narrador
Sra. Cândida Raposo
Médico Ginecologista


Um ator manipulador com um boneco. O Boneco, um fantoche, será a Sra. Cândida Raposo. Os demais personagens serão representados pelo ator manipulador.

(A estrutura da cena pode ser uma bancada, ou mesa, onde 2 ambientes estarão estabelecidos por luminárias. Um será o quarto da Sra. Raposo, pode ter um espelho e uma rosa. O outro, o consultório do Ginecologista)

CENA 1
Quarto

Narrador (de frente para o público)
Tinha oitenta e um anos de idade.

Entra a Sra. Raposo, caminha pelo quarto.
Sobe som com música do Liszt.
Ela suspira e treme (representar a vertigem sugerida no conto)

Narrador
Essa senhora tinha vertigem de viver.
Chamava-se Dona Cândida Raposo. Viúva do Seu Antenor Raposo.

Ela vai até o espelho e se olha.

Narrador
Fora linda na juventude.

Ela suspira, baixa o olhar, caminha até a rosa, cheira-a, suspira e treme (representar a vertigem sugerida no texto)

Narrador
Pois foi com ela que o desejo de prazer não passava.
Teve, enfim, grande coragem de ir a um Ginecologista.


CENA 2
Consultório
(Apaga a luz do quarto. Ela caminha até próximo do ator manipulador. Acende a luz do consultório – área do ator manipulador) ou (A cena é montada com ela sendo examinada por ele)

Sra. Raposo (de cabeça baixa)
Quando é que passa?

Dr.
Passa o quê, minha senhora?

Sra. Raposo
A coisa!

Dr.
Que coisa?

Sra. Raposo
A coisa. O desejo de prazer.

Dr.
Lamento dizer, não passa nunca.

Sra. Raposo (olha pra ele)
Mas eu tenho oitenta e um anos!

Dr.
Não importa. É até morrer.

Sra. Raposo
Mas isso é o inferno!

Dr.
É a vida, Sra. Raposo.

Sra. Raposo
Mas a vida é isso, essa falta de vergonha? O que eu faço? Ninguém me quer mais!

Dr.
Não há remédio.

Sra. Raposo
E se eu pagasse...

Dr.
A Sra. Tem que lembrar que tem oitenta e um anos.

Sra. Raposo
E se eu me arranjasse sozinha? O Sr. entende o que eu quero dizer?

Dr.
É. Pode ser um remédio.

Ela sai do consultório.
Luz se apaga.

Narrador
A filha esperava-a em baixo, de carro. Um filho, D.Cândida Raposo perdera na guerra. Tinha essa intolerável dor no coração: a de sobreviver a um ser adorado.


CENA 3 (quarto da Sra. Raposo)

Narrador
Nessa mesma noite deu um jeito.

Ela suspira e treme.
Masturbação em silêncio.

Narrador
Mudos fogos de artifício.

Ela chora e dorme.

Narrador
Tinha vergonha. Daí em diante usaria o mesmo processo. Sempre triste.
(para ela) É a vida, Sra. Raposo, é a vida. Até a benção da morte.

Sra. Raposo (acorda)
A morte. (fala sentada)

Ruído de passos.
Ela ouve. Olha na direção dos passos.

Sra. Raposo
Antenor? Antenor Raposo!

Abre os braços, como se fosse abraçar alguém. Morre.

--------------------------------------------------------------------------------------




ROTEIRO
(2ª opção)

É a vida, minha senhora!
Ou
Vertigem de Viver
(nomes provisórios)

Baseado no conto “Ruído de Passos”, de Clarice Lispector,
do livro A Via Crucis do Corpo






Personagens
Narrador
Sra. Cândida Raposo
Médico Ginecologista


Um ator manipulador com um boneco. O Boneco, um fantoche, será a Sra. Cândida Raposo. Os demais personagens serão representados pelo ator manipulador.

(A estrutura da cena pode ser uma bancada, ou mesa, onde 2 ambientes estarão estabelecidos por luminárias. Um será o quarto da Sra. Raposo, pode ter um espelho e uma rosa. O outro, o consultório do Ginecologista)

CENA 1
Consultório
Acende a luz do consultório – área do ator manipulador, Médico Ginecologista.
Ela caminha até próximo do médico, senta-se. Os dois conversam em uma consulta. (o público não ouve a conversa) Ele faz perguntas, ela responde, ele anota. Convida-a para deitar-se. Ela vai. Ele põe a máscara e a luva, levanta o vestido dela e a examina. Ele acaba)
(Ela senta, olha pra ele)

Sra. Raposo
E então?

Dr.
Tudo normal, senhora?

Sra. Raposo (de cabeça baixa)
Quando é que passa?

Dr.
Passa o quê, minha senhora?

Sra. Raposo
A coisa!

Dr.
Que coisa?

Sra. Raposo
A coisa. O desejo de prazer.

Dr.
Lamento dizer, não passa nunca.

Sra. Raposo (olha pra ele)
Mas eu tenho oitenta e um anos!

Dr.
Eu sei. Mas não importa. É até morrer.

Sra. Raposo
Mas isso é o inferno!

Dr.
É a vida, Sra. Raposo.

Sra. Raposo
Mas a vida é isso, essa falta de vergonha? O que eu faço? Ninguém me quer mais!

Dr.
Não há remédio.

Sra. Raposo
E se eu pagasse...

Dr.
A Sra. Tem que lembrar que tem oitenta e um anos.

Sra. Raposo
E se eu me arranjasse sozinha? O Sr. entende o que eu quero dizer?

Dr.
É. Pode ser um remédio.

Ela sai do consultório.
Luz se apaga.

(ator manipulador vira narrador)
(enquanto caminha para a próxima cena fala para o público)

Narrador
A filha esperava-a em baixo, de carro. Um filho, D.Cândida Raposo perdera na guerra. Tinha essa intolerável dor no coração: a de sobreviver a um ser adorado.


CENA 2
Quarto vazio

Entra a Sra. Raposo, caminha pelo quarto.
Sobe som com música do Liszt.
Ela suspira e treme (representar a vertigem sugerida no conto)

Narrador
Essa senhora tinha vertigem de viver.
Chamava-se Dona Cândida Raposo. Viúva do Seu Antenor Raposo.

Ela vai até o espelho e se olha.

Narrador
Fora linda na juventude.

Ela suspira, baixa o olhar, caminha até a rosa, cheira-a, suspira e treme (representar a vertigem sugerida no conto)

Narrador
Pois foi com ela que o desejo de prazer não passava.
Nessa mesma noite deu um jeito.

Ela suspira e treme. Deita.
Masturbação em silêncio.

Narrador
Mudos fogos de artifício.

Ela chora e dorme.

Narrador
Tinha vergonha. Daí em diante usaria o mesmo processo. Sempre triste.
(para ela) É a vida, Sra. Raposo, é a vida. Até a benção da morte.

Sra. Raposo (acorda)
A morte. (fala sentada)

Ruído de passos.
Ela ouve. Olha na direção dos passos.

Sra. Raposo
Antenor? Antenor Raposo!

Abre os braços, como se fosse abraçar alguém. Morre.