De Interioridades




Texto/prova

1ª avaliação da Disciplina: Produção textual para a cena

Profa: Bene Martins


            Ao ator a plenitude de se expor, ou apenas o que lhe resta por simples condição do ser, como alternativa de expressão: a arte de mostrar o que do se “ser humano” é manifesto da alma, via os recursos do corpo. O que, a rigor de um conflito interno, vem para fora em movimento, gesto e ação.
            Sempre acredito que o que vejo em cena de atores são resultantes de um autoenfrentamento a que esse artista se submete. É um submeter-se espontâneo, mas há, sem erro, que se deparar consigo, se olhar. Não como em um espelho, mas uma revisão de si, um vasculhar sentimentos, investigar emoções, resvalar em desejos. Mexer em si.
            Isso, ao passo que se realiza, revela o próprio ser ao ator. Revela também possibilidades de seres, ou, vários vir-a-ser como potências de manifestações.
            Esse processo é permanente. Um percurso cujas paradas – criações de personagens, composições de tipos, rebuscamento de gestos – são rápidos anúncios de um recomeço contínuo. Onde quer que chegue, inquieto e insatisfeito com cristalizações, o ator percorre a alma humana para renovar e ressignificar ações.
            O ator, porém, não é seu único objeto de busca de interioridades, nem o único parâmetro. O outro ser humano também é fonte, é espelho, é névoa a dissipar, é caminho. Na exteriorização, única nuance do trabalho do ator visível ao expectador, na composição gestual, na intenção do movimento, na cor das palavras, na sua exposição é que o outro se vê.
            Ao absorver avidamente o mundo, numa apreensão das minúcias da alma reveladas no comportamento humano, e, para além disso, realizar verdades em tempos e espaços fictícios, o ator transcreve de si a fragilidade e a força de quem o assiste.
            Potencia de personalidades, composição de fragmentos de si e de quem mais puder ter sido observado, a criação do ator, responsável direta pelo levantamento da obra teatral, viva apenas naquele momento, encarna extratos invisíveis de coragem e ousadia. O ator se expõe, bravo, corpo e alma revelados, para revelar o outro.