domingo, 27 de junho de 2010

O drama, o épico e o pós-dramático (Seminário de Dramaturgia Amazônida)

Neste dia, que seria o 10º Encontro do Trajetórias do Ser, dia 24 de maio de 2010, aconteceu a palestra com Sérgio de Carvalho, paulista da Cia. do Latão, na noite de abertura do Primeiro Seminário de Dramaturgia Amazônida, com tema proposto por ele mesmo: "Aspectos da forma dramática, épica e pós-dramática no teatro atual".
O Sergio fez um apanhado desde o teatro clássico até os dias atuais, com parâmetros principalmente paulistanos. Citou o momento quando a dramaturgia passou a ser importante e de quando o texto foi o centro e o início de tudo nas obras teatrais. Claro, falou de Brecht e do teatro épico, mas não só de Brecht. Sigo, fazendo pinçadas de tudo que ouvi.

Falou do movimento de teatro se fortalecendo nos ultimos anos, em São Paulo, e de como o épico de Brecht voltou a ser lido no movimento de teatro de grupo daquela cidade e do debate em torno disso. Porém na universuidade isso não aconteceu. Na USP, a voga estava no teatro europeu pós-dramático.
O teatro que recusa o drama e não tem personagens. Algo monológico, fragmentário, sem sentido, um possível espelho da dificuldade de comunicação e da velocidade de informações das grandes cidades na contemporaneidade. Mas que não é isso apenas que o caracteriza. Não há uma fórmula, um modelo.
O que via entre os que buscavam o pós-dramático na universidade, em suas produções, é que o medo do drama pode gerar um drama pior que o drama. Mas via também que nos grupos havia um problema com o drama.
Fez então, uma pequena diferenciação entre o clássico, o épico e o pós-dramático.
O que é o drama no teatro? Um tipo de texto, que aparece na história do teatro, concentrado no diálogo entre sujeitos (interpessoal, intersubjetivo), como não havia no clássico (tragédia e comédia). Aparece no renascimento (sec. XVII), com as noções de sujeito, vontade, livre arbítrio (no clássico o que aparece são deveres, não vontades). A tragédia não busca culpados e sim, conflitos de justiças. Personagens envolvidos em erros maiores. No drama os erros são individuais. Esfera pública (clássico) diferente da esfera pessoal (dramático).
O termo "Drama" aparece no sec. XVIII. Diderot usa-o colocando entre a comédia e a tragédia. O drama tira Coro, Canção, etc, tudo que possa interromper o sujeito. Sai do mito para o caráter do personagem, caracteriza o personagem. Na indústria cultural, solicita um modelo, um esquema, só muda o fundo.
O teatro passa por uma desconfiança do drama, o épico, no fim do sec. XIX. Como representar o extra-subjetivo ou intra-subjetivo (a economia, alienação, por exemplo)? Crise do drama no materialismo, surge o teatro moderno, uma tentativa de fazer o palco narrar, usando recursos narrativos de outros tipos, suspende o tempo dramático, esse é o épico.
Na critica de Brecht à ideologia do drama, o épico não recusa o drama, historicisa, revira, mostra a vida como ela não deveria ser. Cria uma expectativa psicológica, dramática e frustrada, e não a resolve. O público leva a expectativa pra casa. Não responde, deixa questões que saem com o público.
A crítica ao teatro épico e dramático é o pós-dramático. Recusa o texto. A cena é autônoma. Rompe com o que o drama e o épico tem em comum: o impulso mimético. Não representa mais o mundo ficcional. Recusa a fábula. A cena livre vai conter a mensagem. O ato performativo é o ativador do público. Tudo pode ser incorporado, porém isso não garante o pós-dramático. A quebra pela quebra pode não ser pós-dramático. Sabe-se o que não é, mas não exatamente o que pode ser.

Importante dizer que o Sérgio apresenta a edição brasileiro do livro que conceitua o teatro pós-dramático, do alemão Hans-Thies Lehmann. Interessante ouvi-lo e já tentar fazer uma ponte com a produção local para o seminário que irei comentar, o último da série dessa Trajetória, com texto da Maria Lúcia de Souza Barros Pupo, o Pós-dramático e a Pedagogia Teatral. Alcanço, no meu parco raciocínio ainda sobre o tema, possibilidades de pós-dramático na cena paraense (belenense). Lembro do Sombra a Lombre, do Nando Lima, lé por volta de 1996. Será?. Será que o Brasileiramente Árabes é?....
bem....fica o elefante na orelha.

ps.: A foto é do espetáculo Leve Barato, de Nando Lima.

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